Os caminhos do franchising no Brasil - parte I
- Francisco Nakahara
- 8 de set. de 2018
- 4 min de leitura

Apesar de não haver estudo direto sobre esse assunto, acredito ser impossível dizer que o setor de franchising no Brasil foi beneficiado pela crise que assola o pais na última década. De um lado pelo desejo de empresários em ver sua marca expandindo de forma rápida, com baixo investimento do outro lado da equação, empreendedores que buscam uma renda adicional, uma garantia de renda em caso de desemprego e outros “comprando” um novo emprego.
As ofertas estão disponíveis em vários tamanhos e níveis de investimento, milionários como as franquias de fast food reconhecidas mundialmente até micro franquias cujo investimento máximo fica em torno de 50 mil reais.
Segmentos ofertados alimentação, vestuário, calçados, brinquedos e agora, em volumes crescentes, as marcas relacionadas a serviços.Em 2017 o segmento de franchising faturou 163 bilhões de reais e gerou mais de 1,2 milhões de empregos, um aumento de 8% e 1% relação a 2016. A previsão para 2018 é de 9% de crescimento no faturamento e 3% em termos de empregos isso dentro de uma economia que em 2017 cresceu apenas 1%.
A ABF apresenta um balanço positivo, aumento no número de unidades franqueadas que fechou 2017 com 146.134 unidades, 3.541 a mais que o ano anterior e conclui que um sinal de amadurecimento está no fato de ter mais unidades das mesmas marcas. Mas nem tudo é um mar de rosas, o índice de mortalidade de franquias é um caso à parte, em apenas dois anos 228 marcas faliram ou deixaram de franquear. Um estudo feito pela Global Franchising publicado no DCI em fev. /2017 deu conta que entre 2005 e 2016, cerca de 76% das marcas registradas no Guia Oficial de Franquias fecharam ou deixaram de atuar no formato franquia, totalizando mais de 1.100 marcas.Em 2017, pelo segundo ano consecutivo a ABF registrou queda no número de marcas associadas, terminando o ano com 2.845 contra 3.039 em 2016.
Em relação a unidades franqueadas, indica 3% como índice de repasses e 5% de encerramento de unidades franqueadas. Traduzindo esses percentuais, o relatório ABF de 2016 fechou com 142.593 unidades franqueadas, então, são 4.277 unidades repassadas e outras 7.130 encerradas. Considerando um investimento médio de 250 mil reais (incluindo taxas de franquia, luvas e capital de giro) por unidade, a perda pode chegar a 2,8 bilhões de reais perdidos*. O primeiro trimestre de 2018 já demonstra o encerramento de outras 1.752 unidades, não há informação para o volume de repasse nesse período.Apesar dos números serem percentualmente insignificantes, traduzidos em valores monetários se tornam muito significativos para ser monitorados a distância e pouco divulgados.
“Apesar de demonstrar um encaminhamento para maturação, ainda há muitas franquias entrantes sem o tempo de vida suficiente para assegurar que funcionam em escala maior ”
Um estudo publicado no DCI relata que das marcas encerradas entre 2005 e 2016, apenas 10% possuíam mais que 20 unidades abertas, quando se olha o universo de franquias abertas nesse período apenas 499 (24%) passaram pelo primeiro grande desafio e superaram as 20 unidades.Para os especialistas, o segundo maior desafio dos franqueadores é atingir a marca de 60 unidades, mérito esse alcançado por apenas 10% das novas franquias. A realidade, porém, é que essa quantidade depende muito do que a marca oferta, a perpetuidade é garantida à medida que o ponto de equilíbrio é atingido apenas com receita de royalties, cobrindo todos os custos de operação da franqueadora (incluindo consultoria de campo, suporte operacional, treinamento, etc.).Os royalties normalmente são calculados com base no faturamento das unidades da rede e tendem a ser menores em franquias de serviços, fazendo com que o ponto de equilíbrio desse tipo de franquia, por exemplo, fique entre 85 e 100 unidades. Não tendo renda adicional a franqueadora que não gera recursos suficientes através de royalties passa a ser dependente de complemento através de expansão (taxa de franquia), como consequência pode gerar a necessidade diminuição da qualidade da seleção de novos franqueados e o aumento exponencial do risco de mortalidade das unidades.Outra questão a ser considerada é o Franqueamento de marcas ainda muito pouco desenvolvidas, sem processos testados por tempo suficiente, cultura organizacional e know-how definidos fazendo com que o suporte as unidades fique prejudicado, além disso, por vezes sem plano adequado de expansão e preparo para os desafios que o processo de expansão traz.Assim, a maioria das franquias conseguem apenas se manter em uma luta diária e paradoxal entre crescer e maturar e são os números que dizem isso, 76% não sobrevivem. Positivo, no atual momento do mercado de franchising, é o latente desejo de desenvolver-se no quesito gestão, há um movimento inicial em direção a um maior refinamento da qualidade dos franqueados através de ferramentas de coaching, processos de seleção baseados em perfil psicológico e tentativa de capacitação na gestão financeira, esse processo funciona se aplicado em uma ação continua de treinamento que envolva todos os aspectos da gestão.Os objetivos principais desse processo deveriam ser a redução de mortalidade, agilização do processo de maturação, absorção de cultura organizacional dos franqueados e aumento na produtividade traduzida em faturamento. No entanto, esses conceitos ainda não são regra geral no mecado.Quando se fala em software de gestão e inteligência de negócio, vemos grandes massas de dados sendo gerados, porém muitas informações ainda armazenadas em máquinas localizadas no PDV (ponto de venda) sem acesso direto pelas marcas, perdendo toda capacidade de entender causa, efeito e previsibilidade do negócio. Há que se considerar, também, que um estudo mais detalhado e discussões com duas das principais marcas de software do mercado, revelaram inconsistência e problemas nos critérios nos relatórios disponibilizados.Há, ainda, as marcas que permitem que seus franqueados contratem sistemas de PDV de diferentes fornecedores dificultando ainda mais o processo de consolidação dos dados.Os sistemas, que devem ser vistos como um importante gerador de informações que permitam definições estratégicas, visões de atuação e identificação de problemas para busca de soluções, ainda são apenas geradores de informações para cálculo de royalties e fundo de publicidade.
Continua>>> *Extrapolação simples baseado em números indicados pela ABF e dados médios obtidos em ofertas na última Feira de Franchising.
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